19 dezembro 2011

Stupendemys, o maior quelônio de água doce

Stupendemys geographica macho (em primeiro plano) e fêmea (ao fundo), juntos ao bagre Phractocephalus nassi e o jacaré Purussaurus mirandai, que nada próximo à superfície.
© Jaime A. Chirinos, 2019

Atualizado em agosto de 2020

    Stupendemys (do latim "tartaruga estupenda") é um gênero de cágado que viveu no norte da América do Sul entre 13 e 5 milhões de anos atrás, de meados do Mioceno ao início do Plioceno. Habitou a atual região amazônica, que na época era um grande sistema de lagos e pântanos. Esse habitat parece ter favorecido o gigantismo em vários animais, como o crocodiliano purussauro, o roedor Phoberomys e a própria Stupendemys, que chegava a quase 4 m de comprimento e uma massa estimada em 1.145 kg. Seu casco poderia alcançar até 3,3 m de comprimento, rivalizando até mesmo o arquelônio, a maior tartaruga conhecida.

© Mundo Pré-Histórico

    A taxa de crescimento da Stupendemys era semelhante à das tartarugas modernas, o que leva a uma expectativa de vida de até 110 anos para que atingisse seu tamanho máximo. Ela retraía o pescoço lateralmente para dentro do casco, uma característica típica dos cágados. Os machos da espécie Stupendemys geographica possuíam dois cornos voltados para frente em sua carapaça, próximos à abertura da cabeça. Ranhuras indicam que, em vida, esses cornos eram cobertos por queratina, e cicatrizes profundas sugerem que eles eram usados como lanças para lutar contra outros machos, seja por fêmeas ou por território - comportamento observado em algumas espécies atuais de jabutis.

O paleontólogo Rodolfo Sánchez ao lado do fóssil de um casco de Stupendemys geographica macho, encontrado em Urumaco, na Venezuela.
Crédito: Edwin Cadena

    O tamanho avantajado foi crucial para a Stupendemys se defender de predadores de grande porte, como o purussauro e o Gryposuchus - marcas de mordidas e até um dente de crocodiliano com 5 cm foram encontrados cravados em carapaças fossilizadas. Seu peso a ajudava a ficar debaixo d'água por longos períodos de tempo, se alimentando de pequenos animais (peixes, jacarés, cobras, moluscos) e vegetação, particularmente frutos e sementes. Por outro lado, devia ser um nadador relativamente fraco, incapaz de se mover rapidamente contra a correnteza, e por isso preferiria viver no fundo de grandes corpos de água.
    Stupendemys geographica foi descoberta em 1972, na Venezuela, e descrita em 1976, por Roger Conant Wood. Por muito tempo, pouco se sabia sobre ela, principalmente pela falta de espécimes completos. Desde os anos 1990, porém, novos fósseis têm sido descobertos também na Colômbia, no Peru e no Brasil, incluindo os primeiros ossos da mandíbula e a maior carapaça completa de qualquer quelônio, com 2,86 m. Uma espécie controversa, Stupendemys souzai, foi proposta em 2006, a partir de fósseis encontrados no estado brasileiro do Acre. Entretanto, um estudo publicado em 2020 unificou esta e outras espécies de quelônios da Amazônia do Mioceno em uma só, S. geographica. Entre os animais que viveram naquele habitat estão vários tipos de peixes bem conhecidos dos rios amazônicos de hoje, como bagres, pacus e traíras, além de tartarugas, botos, arraias, tubarões e crocodilianos.

Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Testudines
Subordem: Pleurodira
Família: Podocnemididae
Subfamília: Eymnochelyinae
Gênero: †Stupendemys
Espécies: Stupendemys geographica e S. souzai?

Crédito: Julio Lacerda, 2020
Réplica de casco de Stupendemys geographica no Aquário Kaiyukan, em Osaka, Japão. A Stupendemys era quase 10 vezes maior que sua parente viva mais próxima, a tartaruga-de-cabeça-grande-do-amazonas (Peltocephalus dumerilianus).
Foto: Chris Gladis, 2006

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